quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Como nasceu meu ativismo

Ele era um obstetra senhor, me parecia muito experiente. Virava e mexia desmarcava consultas com a gente na sala de espera, pois alguma gestante entrava em trabalho de parto. Dizia sempre que o normal era o melhor, mas que deixasse por conta dele e pro final, era cedo pra pensar nisso. Quando eu disse que lia artigos na internet, ridicularizou dizendo ser textos de pessoas leigas... Quando fiz um ultrassom por volta da 32ª semana, a Nena ainda estava sentada. Questionei sobre versão cefálica externa, ele me disse que "pela experiência dele - Ooohhhh!- era um procedimento ultrapassado, com muitos riscos e poucas chances de sucesso, mas que ainda dava tempo dela virar. Pediu exames de coração, coagulação e outros mais, até um perfil biofísico fetal. Ele queria achar pêlo em ovo. No exame, a bebê dormiu, a ultrassonografista já começou a aterrorizar dizendo que ela poderia não ter virado por ter alguma deficiência, síndrome, pois não era normal um bebê quieto, que não se mexia, que não "reagia" daquela forma. Disse que eu tinha que voltar emergencialmente ao médico para ele "verificar a conduta".  Parece um complô, sabe? Exames e medos que plantam na cabeça de uma mulher preocupada com seu bebê (eu já tinha perdido 2 anteriormente), de forma que você peça a
cirurgia achando que teria tudo sob controle. Eu tentei fugir, mas não foi o suficiente. Tomei atitude tarde demais- mas aí começa a parte de virar a página, do post de amanhã. Cheguei no Santa Joana com dilatação total, trabalho de parto todinho em menos de 6 horas, e fui pra cirurgia me cagando de medo, pela minha vida, pela vida da minha bebê, pelo sentimento de impotência, fracasso. Ela nasceu bem, mas pra mim não foi suficiente ela ter "sobrevivido". Eu sempre quis mais pra mim do que o senso comum. Eu sempre quero o melhor ao meu alcance para minhas pessoas amadas. Nesse momento, minha filha foi extraída de mim, e a partir daí eu não iria deixar me tirarem mais nada: nasceu o ativismo.