segunda-feira, 11 de julho de 2011

Relato de parto da Manuela





Desculpem pela demora, mas como hoje eu consegui terminar de digitar o relato de parto da Manu, resolvi inaugurar minhas postagens desta forma:

EM CASA
Terça-feira, 17/05/2011- por volta das 07:56h da manhã, o telefone toca. Eu, que estava preguiçosa na cama, assistindo TV com a Mariana e esperando a Manuela se mexer, levanto, atendo o telefone pensando ser o Raphael e na verdade é o montador de móveis, avisando que chegaria a partir das 08:00h para montar a cômoda que faltava no quarto para acomodar as roupas das meninas. Aí sim eu poderia comprar o enxoval da Manu, visto que eu pensei a gravidez toda que tinha guardado as roupas dela de recém-nascida para a gravidez seguinte, e descobri na semana passada que havia doado as roupas e não me lembrava, e ainda não tenho praticamente nada de recém-nascido. Decido deixar a preguiça de lado, aviso à Mari que vou limpar o quarto dela e ajeitar o espaço para que o montador trabalhe sossegado e monte a cômoda no lugar correto, uma vez que eu não poderia arrastar o móvel depois. Retiro o carrrinho de bebê do lugar, recolho os brinquedos do chão, passo a vassoura, e quando ia pegar o banquinho no banheiro para alcançar o desinfetante no armário da cozinha, sinto um líquido escorrer pela calcinha em 2 jatos. É a bolsa que estourou!- pensei. Vou ao banheiro sem nenhum pingo de dor nem contração, sentindo apenas a expectativa. Ao olhar a calcinha, um susto: sangue vivo, 2 manchas grandes. Pego um absorvente, saio do banheiro para pegar outra calcinha, a Mari olha aquelas manchas e pergunta: “É cocô, mamãe?” Eu respondo que não, explico que é um sinal de que a Manu vai nascer. Visto a roupa, pego o telefone desesperada e ligo para o Raphael. Ele tinha ido trabalhar normalmente, pois nem sinal dos pródromos no dia anterior. Eram 08:39h. Contei o que aconteceu (que eu não esperava ter visto sangue, que achava não ser normal, pois eu já tinha perdido o tampão 2 semanas antes, quando a Manu tentou nascer pela primeira vez), que o montador estava vindo e que eu estava com medo das contrações virem muito rápido e eu estar em casa sozinha com a Mari e o montador, enfim, tudo estava diferente do planejado e esperado.
Logo o montador chegou, indiquei o quarto das meninas à ele, e fui pra internet pesquisar a respeito do sangramento. Ao entrar no MSN, encontrei a Patrícia, minha ex-cunhada, e perguntei a ela sobre seus partos, se alguma vez tinha acontecido algo parecido. Ela me disse que o parto do Biel (caçula, prematuro, nascido de parto domiciliar não planejado) havia começado igual, com sangramento, e que como ela não tinha contrações fortes, foi levando, até que não deu tempo e o menino nasceu em casa. Ela me disse que inevitavelmente era o dia da Manu nascer, que esse era o sinal, que eu poderia ter certeza de que ela queria nascer e de que os médicos não iriam conseguir evitar novamente. Conversamos mais e fui lavar a louça, me movimentar para ver se as contrações apareciam. O Raphael chegou em 25 minutos da hora em que eu liguei, pois a Marginal em sentido bairro estava vazia, e já querendo sair correndo pro hospital. Expliquei a ele que o montador estava ainda em casa, relatei o que a Patrícia me falou, e fui ajeitando a casa na expectativa de que as contrações viessem. O montador terminou a cômoda, limpei os móveis do quarto com álcool, lavei o banheiro, e nada! Decidi tomar banho com a Mari, pois a Patrícia havia reforçado a lembrança de que banho engrena as contrações, mas apenas fez com que o sangramento parasse. O Raphael, já impaciente, reclamou que eu o faria perder mais um dia de trabalho à toa, pois era alarme falso. Decidimos ir ao Santa Marcelina como na orientação anterior da parteira, pelo menos para verificar o motivo do sangramento e monitorar a bebê. 
Saindo pelo portão do prédio (sendo que o Rapha já havia descido antes com as malas da maternidade nas mãos), uma vizinha pergunta: “Nossa, sua barriga já está grande, pra quando é?”. E eu respondo que é para o final do mês, mas querendo dizer “É hoje!”. Eu havia chorado muito nos dias anteriores, estava estressada e cansada, foi uma gravidez conturbada com tantos riscos e ameaças de abortamento, estava sem paciência com a Mariana e nervosa, muito frágil emocionalmente. Havia pedido a Deus que se a Manu estivesse pronta, que Ele permitisse que ela nascesse saudável e logo.

INDO PARA O HOSPITAL
Seguimos ouvindo a mesma música que tocou no caminho do hospital no parto da Mariana, combinamos onde estacionar, subimos a rampa do hospital andando, e nada de contrações. Fiz a triagem, os mesmos 3cm de dilatação de 2 semanas atrás, colo pérvio posterior. Solicitaram um ultrassom, e o sangramento já tinha parado.
A espera pelo ultrassom foi tanta, que eu entrei na sala com contrações de 7 em 7 minutos, regulares. Estava calma, o c ronômetro do celular era meu melhor amigo, cada contração durava cerca de 45 segundos, o médico até percebeu as contrações durante o USG e mediu o BCF da Manu durante uma contração. O laudo demorou mais ainda, mas apontou restrição de crescimento intra-uterino (RCIU), os dados estavam praticamente iguais ao USG de 2 semanas atrás, quando a Manu tentou nascer e o trabalho de parto prematuro foi inibido, porém estava dentro da margem de erro, segundo o médico. Voltamos à triagem, foi feito um cardiotoco: Manu ativa, contrações de 6/6min, as outras gestantes na sala torciam e diziam que a Manu nasceria hoje ainda, dava pra ver a barriga se movimentando para baixo quando as contrações vinham. Ao terminar o exame, a residente disse estar normal, e que eu voltasse para casa, solicitando um USG para o dia seguinte às 09:00h da manhã, para conferir a RCIU. Eu disse que voltaria, se a Manu esperasse até lá, pois as contrações estavam de 5 em 5 minutos. Ela decidiu me examinar somente por desencargo de consciência, e achou o colo com 4 cm de dilatação, contrações efetivas. Disse que internaria para inibir o trabalho de parto novamente. Eu disse a ela que era contra a 2ª inibição, contei meu histórico, ela disse que a equipe do CO que daria o parecer final. Mandaram o Raphael para casa, uma vez que seria feita a inibição, e me internaram. Ao subir para o CO de cadeira de rodas (para não incentivar o TP), fui obrigada a colocar aquela camisolinha infame para ser examinada. O Dr. Lucas se apresentou, fez minha anamnese e falou na inibição que seria feita. Questionei, ele disse que seria aplicado Buscopan no soro, e que se o TP estacionasse, cada minuto ganho seria bom para a Manu, mas que se ela insistisse em nascer, que nós a receberíamos. Assim fiquei por volta das 18:30h às 20:37h, quando apesar das contrações estarem de 4 em 4 min, eu andar, rebolar e agachar escondida da equipe de enfermagem no biombo, o Dr. Marcelo viu que eu estava com apenas 5cm de dilatação e praticamente sem dor. Eu ouvia a moça do biombo da frente chorar para o marido dela quando estava com 5cm, e pouco tempo depois a equipe estava fazendo o parto dela. Vibrei junto com ela quando o bebê chorou, agradeci a Deus por mais uma criança saudável no mundo, mais uma mãe feliz e um parto normal. Depois de um tempo, eu já tinha feito um cardiotoco no CO, subiu a equipe do PS: Dr. Nelson, Dra. Cláudia, e os médicos do CO, Dr. Lucas, Dr. Marcelo e Dra. Maíra. Questionavam as falhas do BCF no cardiotoco, que sumiam no final das contrações e reapareciam depois repentinamente, era a Manu brincando de virar quando o útero apertava ela. Foi refeito e descoberta a brincadeira, tudo dentro da normalidade. Decidiram que deveriam deixar a Manu vir, já que o Buscopan não tinha servido pra nada, tomando uma conduta ativa: queria romper a bolsa, pois estava protusa, mas a Manu não conseguia estourar nem descer mais. Não permiti, expliquei que as contrações poderiam vir muito fortes e eu ainda estava com pouca dilatação, negociei ir para o chuveiro. 

O PERÍODO ATIVO
Fiquei lá no chuveiro por bastante tempo curtindo as contrações, cantando louvores em pensamento. Havia acabado a bateria do celular, eu não sabia que horas eram, nem o Raphael sabia que a Manu iria nascer, eu achava que teria tempo de ligar pra ele quando saísse do chuveiro. Ledo engano.
Não percebi que o louvor contido se transformou em gemidos e logo em gritos, eu fiquei esperando a enfermeira vir trazer outra camisola e nada. Saí do banheiro já gemendo de dor, com a camisola suja mesmo, sentindo cabeça da Manu descer, tipo “parafusando” colo abaixo. Gritei pela enfermagem, fui para o biombo, e pelo gemido a Dra. Maíra me reconheceu e veio correndo, pedindo pra eu sentar na maca e perguntando “Paola, como você está?”. Relatei, mas não conseguia sentar na maca para ser examinada durante a contração. Passou, logo vieram Dr. Lucas e Dr. Marcelo,viram que a Manu estava alta e móvel, mas que estourando a bolsa ela desceria. Concordei, coloquei a bunda na comadre e apesar de incômodo e dolorido, foi legal. Perguntei se o líquido estava claro, o Dr. Marcelo confirmou. Dr. Lucas examinou e disse: “Parabéns, você já está com 10cm! Vamos começar.” Abençoei a ele pela boa notícia, agradeci sorrindo, apesar de quase gritar durante as contrações. Armaram a cama de parto, inclinando e colocando os apoios de pés e os remos das mãos, mas eu agarrava no lençol e gemia, gritava, soprava, tentava respirar fundo mas não conseguia fazer força. Comentei com a Dra. Maíra do meu lado (que disse mais cedo que adoraria assistir meu parto) que ainda bem que o Raphael não estava lá, que eu morreria de vergonha dele e travaria ainda mais. Durante uma contração pensei em pedir um Buscopan para aliviar a dor, mas refleti que não ajudaria em nada, estava muito forte, e pensei que a analgesia descaracterizaria o parto natural. Desisti. Aos poucos consegui seguir as orientações e fazer força colocando o queixo no peito, segurando os remos e prendendo a respiração durante a força. Mas uma coisa eu digo: não sentia vontade de fazer cocô, quando a contração vinha, minha vontade era me jogar no chão e chorar! 

O NASCIMENTO
Senti o círculo de fogo, ou melhor, o túnel de fogo. Me desesperei, queimava o percurso e eu sentia a Manu descendo. Gritei: “tá queimando tudo!”, disse que estava com vergonha, a equipe disse não ter porquê, fiz a força seguinte e acabei fazendo cocô. Dessa hora em diante, a vergonha foi tanta que eu não consegui mais abrir os olhos e ver a equipe, só pedia perdão, mas disseram que era normal aquilo acontecer. Dr. Marcelo avisou que ia ajudar segurando minha barriga, pois tinha muito espaço sobrando e a Manu tinha dificuldade em descer, onde se apoiar. Foi hilário, mas eu gritei “Kristeller não!”. Quiseram colocar ocitocina no soro do acesso, mas eu expliquei que queria tudo o mais natural possível, negociei que fosse utilizada somente em último caso e fui atendida.
A Manu coroou, o Dr. Lucas me avisou e me ofereceu para sentir o cabelinho dela, e coloquei a mão e foi a sensação mais feliz da minha vida, minha filha estava chegando! Tive ânimo de fazer força, Dr. Lucas pediu que avisassem a pediatra Neo-natal que ela ia nascer. O campo estéril foi colocado, e segundo a equipe, mais umas 4 contrações e a Manu nasceu, chorou espontaneamente e resmungou quando o médico mexeu nela, acho que pra clampear o cordão, e comentaram que ela já era brava... Eu tinha feito uma forçona comprida e só parei quando o Dr. disse que não precisava mais, abri os olhos e vi ela escorregar. Então olhei para a Dra. Maíra, pra quem eu tinha até dado a mão durante as contrações, e a vi com alegria e brilho nos olhos, como se fosse minha irmã, anunciar: “Olha a Manuela aí!”. Eu a olhei, reparei que era moreninha, a amei e disse: “Deus a abençoe, seja bem-vinda, Manuela”. Eram 00:45h do dia 18/05/2011.
Levaram ela para examinar, o Dr. Lucas me tranquilizou dizendo que ela nasceu respirando muito bem, forte e esperta para quem é prematura. Ajudaram a dequitar a placenta com uma massagem, eu pedi pra ver e para que me explicassem qual era o lado materno e o lado fetal. Deram risada e ainda me zoaram pela curiosidade. Lembro que eu pensei: “nunca mais eu como carne na minha vida”, mas dei risada por dentro e ainda reparei no tamanho do cordão umbilical, comprido. Depois eu soube que a Manu tinha 1 circular de cordão, que eu nem vi, tanta a rapidez do médico em desfazê-la.
Pedi muito para ver minha pequena, para pegá-la, me trouxeram ela embrulhada naquele pano verde-escuro, olhei seus traços, falei algo com ela sobre a vida, Deus, proteção e felicidade, me disseram para dar um beijo nela e me despedir com um beijos, pois levariam ela pro berçário. Dei um beijo em sua testa, que ficará marcado em mim pro resto da minha vida! Foi o beijo que eu gostaria de ter dado na Mari, 2 anos, 3 meses e 2 dias antes. Manuela arrematou uma história de amor que começou na irmã Mariana.

DEPOIS DO NASCIMENTO
Manuela ficou durante o seu primeiro dia de vida na semi-UTI do berçário, até que os médicos percebessem que ela é uma criança surpreendente o suficiente para deixar sua mãe orgulhosa e que não precisava de cuidados especiais, nada mais além de muito amor e leitinho materno! Deste 2º dia de vida em diante, o médico nos liberou para permanecermos em quarto conjunto, usufruindo dos benefícios do Programa Mãe Canguru, que deu incentivo para o nome deste blog. 

CURIOSIDADES
  • TP de cerca de 8 horas;
  • Sem episio, sem ocitocina, sem acesso de soro contínuo;
  • Foi feita a kristeller somente de apoio, sem empurrar, de maneira super-respeitosa;
  • O Rapha ficou sabendo do nascimento da Manu quase 2 horas depois, pelo celular da Dra. Maíra, e ficou espantado inicialmente, mas muito feliz.
  • A Manu nasceu com 33 semanas e 5 dias, mas com capurro de 37 semanas. Não ficou nem o primeiro dia de vida inteiro com suporte de oxigênio, usou sonda naso-gástrica somente até a primeira tentativa de mamada, que ocorreu com sucesso antes das primeiras 12 horas de vida. Saiu da encubadora diretamente para o sistema mãe-canguru no segundo dia de vida.
  • A primeira coisa que ela fez na encubadora ao ouvir minha voz de madrugada foi abrir os olhos, mostrando que me reconhecia.
  • Peso: 1,540Kg, 41cm de estatura.
  • Comentei logo ao vê-la que ela nasceu escurinha, e apelidei ela de Manuela Canela, pra combinar com a irmã Mariana Banana. E ainda brinquei: “Parir dá uma fome! Uma torta de banana com canela cairia bem agora!”.
  • O único momento em que eu senti medo foi na sutura da laceração, receava que me costurassem torta, cheguei até a pensar em pedir pra não suturarem quando ouvi falar que ela superficial. Mas depois reconheci que era bobeira e nem falei nada. O pior é que quando inchou, realmente parecia que tinha ficado torta.
  • A partir do momento em que a Manu mamou o leite materno, todas as vezes em que alguma enfermeira tentava oferecer leite de fórmula, ela virava o rosto, chorava e se negava a engolir. Foi uma das próprias enfermeiras que relatou isto
  • O sangramento puerperal cessou quase por completo já no 7º dia.
  • No 3º dia de vida da Manu, o leite desceu em grande quantidade e tive até mastite com febre. Tive que ordenhar e tirei 40ml de cada mama, sendo que ainda ficaram bem cheios, mas menos doloridos.
  • Tabela do peso da Manu:
Ao nascer: 1,540Kg
19/05/2011- 1,530Kg
20/05/2011- 1,465Kg
21/05/2011-1,495Kg
22/05/2011-1,520Kg
23/05/2011-1,565Kg
24/05/2011-1,570Kg
25/05/2011-1,590Kg
26/05/2011-1,655Kg
27/05/2011-1,690Kg.
Ficamos 9 dias internadas no mãe-canguru, para chegar ao peso de alta padrão do hospital, que era 1,700Kg.


Na consulta com o pediatra em 30/06/2011, Manuela já estava pesando 3,050Kg e com 48cm de comprimento:


3 comentários:

  1. Parabéns Paola pelo lindo trabalho de parto.
    Fiquei emocionada ao ler.
    E sua pequena é linda........muito forte, saudável e com uma vontade enorme de vencer.
    Parabéns.

    Beijos

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  2. parabens! lindo relato! fiquei emocionada!

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  3. Emocionante o seu relato. Parabéns pela família. A Manuela é linda!!!

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